Afinal, o que são cosméticos naturais?

Afinal, o que são cosméticos naturais?

Para começar, o que é afinal um cosmético? Segundo a Anvisa, os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são definidos como aquelas preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano... 

... (pele, sistema capilar, unhas, lábios, etc) com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência, corrigir odores corporais, protegê-los ou mantê-los em bom estado. 

Desde muito pequenos, fazemos uso de muitos itens dessa categoria mesmo sem nos dar conta. Sabonetes, pasta de dente, shampoo, protetor solar, após sol, maquiagem, protetores labiais, hidratantes, óleos, e muitos outros. 

Cada um desses itens cosméticos possui uma composição diferente, tornando-o distinto em relação ao seu grau de naturalidade e até mesmo impacto para o meio ambiente e para a nossa saúde! Vamos aprender a avaliar melhor os produtos que usamos pensando nesses critérios? 

Os ingredientes: de onde vem, pra que servem e pra onde vão? 

Cada cosmético possui uma composição, ou seja, uma lista de ingredientes utilizados para sua fabricação ou manipulação. Essa lista deve estar presente nos rótulos em ordem decrescente em relação a concentração de cada item naquele produto. Ou seja, o primeiro item que aparece na lista de ingredientes do produto é o que está em maior concentração, e assim por diante. 

Dentre todas as matérias-primas que compõe um produto, algumas delas são escolhidas para conferir a eficácia do produto, e são comumente chamadas de “ativos”. Outras delas são consideradas os veículos, ou seja, são escolhidas para carregar esses ativos, dando forma ao cosmético, solubilizando os ativos e “veiculando-os” para as camadas da pele. Esse veículo, que nada mais é do que a base do cosmético, pode ser uma emulsão, um gel, um líquido ou até mesmo um pó. Além dessas, existem matérias-primas chamadas de coadjuvantes que melhoram a fórmula, por exemplo, fazendo com que ela espalhe melhor, deslize melhor, seja mais facilmente absorvida, não perca umidade, entre outras, e conferem sua estabilidade em diversos âmbitos. É claro que um ingrediente pode desempenhar mais de uma função, e isso é muito comum quando falamos de cosméticos naturais e você já vai entender o porquê! 

Voltando aos ingredientes, cada um deles pode ser classificado conforme a maneira como é obtido e as transformações sofridas até a incorporação no produto. Algumas matérias-primas são consideradas naturais, pois são obtidas na natureza e utilizadas em formas de extratos, óleos, e outros, nas formulações cosméticas. O processo para sua obtenção é puramente físico – colheita, extração, decantação, prensagem, etc. Alguns exemplos muito conhecidos por todos, são o óleo de coco, extrato de camomila, óleo essencial de lavanda, manteiga de karité, e muitos outros. 

Outras matérias-primas são chamadas sintéticas pois são obtidas a partir de um processo químico. Ou seja, não estão presentes na natureza e são sintetizados em laboratório. Muitas delas têm origem no petróleo, como os controversos parabenos e as parafinas. 

Existem ainda as matérias-primas derivadas de produtos naturais. Isto é, são obtidas a partir de uma matéria-prima natural, mas sofrem algum processo antes de serem incorporadas ao cosmético. 

De maneira geral, as matérias-primas naturais e derivadas são melhor aceitas e “compreendidas” pelo nosso corpo, nossa pele, por conta de conterem estruturas químicas similares. Existe uma maneira muito simples, embora generalista, de entendermos isso: imagine que existam peças na natureza, de diferentes formas. Essas peças se encaixam perfeitamente, em infinitas combinações. O nosso corpo, quando em contato com matérias-primas naturais, tem esse encaixe perfeito, sendo capaz de classificar o que está recebendo, digerir e processar. Já as matérias-primas sintéticas, por sua vez, são feitas a partir de peças diferentes, dificultando o encaixe. É como se nosso organismo muitas vezes recebesse corpos estranhos, e ao longo dos anos fosse acumulando e se intoxicando.

Além disso, as matérias-primas naturais, quando descartadas no meio ambiente são biodegradáveis, enquanto as sintéticas muitas vezes tornam-se “lixo”, poluição e toxinas. 

Mas cuidado! 

É claro que precisamos ponderar. Muitas matérias-primas sintéticas foram muito importantes na história, e salvaram vidas no momento em que foram desenvolvidas. Assim como, é preciso muito critério, estudo e pesquisa no uso de matérias-primas naturais, já que nem todas elas nos fazem bem, e além disso todas elas precisam ser utilizadas na concentração correta para o nosso bem-estar. Existem na natureza também plantas tóxicas, venenosas, alergênicas, e por aí em diante. 

Por isso, dizemos que o desenvolvimento de um cosmético natural também exige muita tecnologia, seriedade e profissionalismo. 

Mas, então, o que é um cosmético natural? 

Falamos até agora sobre cada ingrediente e como ele pode ser classificado enquanto natural, derivado ou sintético. Mas como podemos classificar o produto final enquanto um cosmético natural? No Brasil, não há ainda uma legislação específica que defina o que pode ser considerado um cosmético natural ou orgânico. No entanto, antes de mais nada, podemos, utilizando das informações anteriores, refletir a respeito do grau de naturalidade de cada produto, analisando sua composição. Além disso, com o tempo, podemos nos informar à respeito dos ingredientes sintéticos mais nocivos à saúde, ou que em sua cadeia seja comum a exploração, más condições de trabalho, ou degradação ambiental, por exemplo. Além disso, podemos aos poucos construir os nossos próprios critérios e criar a  nossa lista pessoal de ingredientes a serem evitados de acordo com nossos valores, necessidades e preferências. Um exemplo dessa postura, é a escolha de muitas pessoas por não consumir itens com ingredientes de origem animal. 


As certificadoras privadas garantem a rastreabilidade e transparência, através de critérios claros e disponíveis 

Embora seja muito importante esse empoderamento individual, a informação e capacidade de avaliar por nós mesmos os produtos que usamos, às vezes isso é muito difícil e inviável, seja pela falta de tempo, seja pela quantidade de produtos que usamos no dia-a-dia com inúmeras finalidades, seja pela falta de informação disponível. 

Por isso, no Brasil, as marcas recorrem a certificadoras privadas, que construíram seus padrões e critérios com muito estudo, e inspiração, nos mercados e culturas de maior tradição e consistência no que diz respeito aos cosméticos naturais e orgânicos. O importante é entender que o conceito não se restringe apenas a composição dos produtos em si, mas carrega uma verdadeira concepção de cadeia, e uma busca por saúde ao longo dela toda. A ideia é que para um cosmético existir, existem diversas etapas anteriores a fabricação, pessoas trabalhando, se relacionando umas com as outras e também com o planeta. Além disso, depois de usado, os produtos também acabam em algum lugar. Todo esse processo deve ser cuidado. 

Sendo assim, a certificadora de cosméticos naturais olha desde a agricultura, os insumos, relações de trabalho, até o armazenamento, ingredientes proibidos pelo seu potencial nocivo, e outra infinidade de detalhes. Isso garante que as marcas certificadas atuem com transparência, consistência e que de alguma forma atestem e validem seu processo diante do seus consumidores. Isso facilita a escolha, uma vez que o selo garante uma série de coisas que o consumidor por conta própria teria muita dificuldade de pesquisar e auditar sozinho.  

Por isso, podemos facilitar o processo nos informando minimamente sobre os valores e critérios de uma determinada certificadora, e, uma vez confiando no seu trabalho, nos tranquilizarmos com a escolha de produtos que levem seu selo. 

Então, quais são os principais critérios para que um cosmético seja considerado natural?

As principais certificadoras adotadas pelas marcas brasileiras são o IBD e Ecocert. Existem diferenças em relação as exigências, e também diferentes tipos de selos (cosmético natural, cosmético feito com ingredientes orgânicos e cosmético orgânico) as quais podemos abordar em um próximo conteúdo. Mas em linhas gerais, o selo de cosmético natural proveniente dessas certificadoras garante que:

Ao menos 95% das matérias-primas são naturais ou de origem natural 

Quanto aos 5% restante, são permitidas algumas matérias-primas sintéticas listadas pela certificadora. Sendo que outras inúmeras são listadas como proibidas, pelo seu potencial nocivo à saúde. Por exemplo, não são permitidas matérias-primas provenientes do petróleo, tampouco geneticamente modificadas, ou então que implicaram em morte ou maus tratos de animais. 

Além disso, também são listados os materiais de embalagem permitidos, tal como existem normas referentes a fabricação em si, garantindo não apenas a pureza e qualidade dos ingredientes, como boas condições de trabalho. 

Um cosmético que utiliza matérias-primas naturais pode ser considerado natural?

Muitas marcas utilizam ingredientes naturais com a função de ativo, e muitas vezes esse ingrediente dá origem ao claim do produto. Mas isso não garante que a formulação, ou o produto final, possa ser considerado natural, ou até mesmo que não ofereça ameaças à saúde e ao meio ambiente.

Isso porque, conforme vimos um cosmético é formulado por diversas matérias-primas. Assim sendo, é muito comum encontrar um produto que leve uma matéria-prima natural como princípio ativo, mas que esteja em base sintética, podendo conter silicones, corantes, derivados do petróleo em geral, em outras substâncias como essas.

Por isso, é muito importante nos habituarmos a leitura dos rótulos!

Esperamos ter começado a esclarecer algumas dúvidas sobre esse universo profundo da beleza natural! Precisamos agora entender melhor os impactos da opção por cosméticos naturais certificados, que vão muito além da saúde do nosso corpo!!